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Foto do escritorSara & Felipa Educa_são

Questionar a Obrigatoriedade do Pré-Escolar: Perspectivas e Implicações

Atualizado: 12 de jan.



A pré-escola* deve ser obrigatória?


Possivelmente, se tens uma visão a curto prazo para os teus filhos," (adicionar vírgula apóse "prepará-los" para a escola é a tua principal preocupação, então um pré-escolar que se baseie em conquistas académicas, cada vez mais precoces, (a tendência com cada vez mais adeptos hoje), pode satisfazer-te perfeitamente e, esta obrigatoriedade faz-te sentido. No entanto, se tens uma visão a longo prazo para os teus filhos e queres ajudá-los a tornarem-se adultos saudáveis, criativos, independentes, de pensamento crítico, e bem ajustados que contribuirão para a sociedade, o pré-escolar cada vez mais académico de hoje, deixar-te-à profundamente desapontado, como acontece conosco.


Já captámos a vossa atenção? Então, sigam o nosso raciocínio, por favor.


E este é: a defesa de um pré-escolar centrado no BRINCAR, respeitador do desenvolvimento natural da criança, e de apoio às famílias, não em sua substituição!


Este texto surge no sentido de que queremos colocar em discussão o que significa, na realidade, incluir o pré-escolar na escolaridade obrigatória.


O pré-escolar, como indica, é o tempo pré-escola, não é escolarização, no entanto o que se tem observado, é que cada vez mais este segue os padrões da escola, na grande maioria do ensino público, mas não só.


pensamos que muitos possam estar a confundir o que isto significa. Porque sim queremos um pré-escolar de acesso universal e gratuito mas, respeitador da criança e da infância, como tal não encontramos razão alguma para este ser obrigatório, e percebemos muito menos como pode esta medida possa ajudar a combater a pobreza! ( Já explicaremos mais adiante)


Na nossa opinião, antes de perdermos de vez, algo tão precioso e profundo quanto as nossas pré-escolas onde o mais importante é o BRINCAR e o respeito pela individualidade, e pelo desenvolvimento natural da criança. Quando temos especialistas em desenvolvimento infantil que estão a tentar fazer, o possível e o impossível, para soar o alarme sobre o tema. Aproveitemos o clima actual para pensar o que queremos na realmente para o nosso pré-escolar, e qual o seu papel.


O que acontece é que, os melhores e mais brilhantes desta área, há muitos anos nos tentam alertam para que um pré-escolar cada vez mais académico resultará em crianças menos criativos, menos curiosas e menos capazes de raciocínio crítico. Isto não só terá consequências terríveis para as crianças como futuros trabalhadores, pais e cidadãos, mas também terá consequências graves para a nossa democracia, a nosso ver, porque adultos menos críticos e despertos resultam em governos que não serão questionados.


O que vos estamos a dizer é, que temos de defender o que queremos para a nossa educação infantil isso, a nosso ver, inclui o brincar, a exploração, a aprendizagem prática- pelo fazer por si, a interação social, atividades sensoriais e experiências no mundo real, juntamente pelo desenvolvimento individual e respeitador, o respeito pelo ritmo e tempo da criança e suas necessidades físicas, psíquicas e emocionais. E felizmente, temos vários especialistas que criticam as muitas práticas atuais que não são adequadas ao desenvolvimento e causam stress, confusão e frustração desnecessários às crianças: desrespeito pela sua biologia ( sono/sestas e desfralde prematuro), "aulas" dirigidas pelo educador, longos tempos de círculo/roda/ ou assembleia ou seja sentados e passivos, demasiadas tarefas com lápis e papel (pré-escrita ou calculo), avaliações, ( as fichas e as carinhas, estrelinhas, e afins), memorização mecânica, uso cada vez mais cedo da tecnologia, tudo o que tem levado em certos países, à existência até de testes padronizados durante a primeira infância!


O que defendemos?


A pré-escola baseada no BRINCAR e no Respeito pela Individualidade da Criança, que significa crianças mais felizes e saudáveis.


As pré-escolas baseadas no brincar promovem o tipo mais profundo de aprendizagem, incentivam as crianças a tornarem-se aprendizes autónomos que exploram, desenvolvem a curiosidade e resolvem seus próprios problemas. Ou seja, estimula o aprender a aprender.

E, por outro lado, apoia um desenvolvimento autónomo e individual e respeitador dos seus ritmos internos. Em contrapartida, o ensino nas pré-escolas mais académicas geralmente envolve o tipo de aprendizagem mais superficial que inibe a iniciativa e a independência, desrespeita os ritmos individuais de cada criança e portanto o seu desenvolvimento harmonioso.


Temos décadas de pesquisas em psicologia do desenvolvimento que mostram que brincar é a maneira mais eficaz das crianças aprenderem, desenvolverem habilidades sociais e regularem as suas emoções.


E por outro lado temos estudos recentes que vieram a constatar que entre crianças e adolescentes, o BRINCAR diminuiu drasticamente durante os últimos 50 a 60 anos, com um aumento correspondente de depressão, ansiedade e suicídio! Vários investigadores relacionaram a falta de brincadeira ao aumento do narcisismo e diminuição da empatia nas nossas crianças.


Se estás surpreendido com estes factos com estes fatos, provavelmente foste convencido pela mais recente obsessão planetária de que "mais cedo é melhor". Este lema que reina na grande maioria de pré-escolas e escolas de todos os níveis, hoje.


A ansiedade dos pais está em alta, e cada vez mais são os pais que se sentem pressionados para que os seus filhos estejam "academicamente preparados" quando deixarem o jardim de infância. Como resultado, as pré-escolas tornaram-se, cada vez menos, voltadas para o brincar, a criatividade e socialização e mais virada para as habilidades de pré-leitura e calculo matemático, longos tempos de atividades sentadas, e atividades com o foco no educador. O impacto nas crianças é devastador!


Quais são os benefícios da aprendizagem baseada no Brincar? (aqui, quando falamos de brincar, referimo-nos ao brincar auto-dirigido, com a mínima intervenção possível do adulto)


Imaginação (por inspirar maior envolvimento, aprendizagem independente, criatividade, aprendizagem prática, enriquecimento do vocabulário e perspectivas expandidas)


Habilidades de desenvolvimento de linguagem e vocabulário (aprendidas por meio de maior auto-consciência, habilidades de comunicação, experiência compartilhada, envolvimento social e até oportunidades bilíngues)


Habilidades sociais (etiqueta, resolução independente de problemas, desenvolvimento de empatia, menos exposição a aspectos negativos da tecnologia, inteligência emocional, habilidades de resolução de conflitos)


Desenvolvimento Emocional (mecanismos de auto-regulação, os benefícios da interpretação, habilidades emocionais, expressão e escape, capacitação pessoal, preparação emocional e flexibilidade e equilíbrio)


Matemática e compreensão espacial (consciência espacial, vocabulário básico para matemática, aplicações no mundo real, a percepção de que matemática é divertida, a educação adequada ao desenvolvimento e a conceitos básicos)

Poderás explorar estes tópicos mais aprofundadamente num futuro artigo Mas já temos, hoje em dia, imensa literatura disponível sobre o assunto. Temos décadas de pesquisas em desenvolvimento infantil e neurociência que nos dizem que as crianças aprendem ativamente - elas precisam de se mover, usar os seus sentidos, colocar as "mãos na massa", interagir com outras crianças e educadores, criar, inventar.


Penso que, hoje em dia, deveríamos ter um movimento, à semelhança de outros países, denominado 'Defesa dos Primeiros Anos', que servisse para informar os pais de crianças pequenas e o público em geral sobre a importância de permitir que as crianças sejam crianças. À semelhança do movimento que também defendemos e apoiamos incondicionalmente o "Assim não é escola".


Queremos que as pessoas percebam que não há benefícios em acelerar os conteúdos mais académicos, ou tentar abalroar o desenvolvimento natural da criança, mas que existem sim muitas desvantagens.


A verdade é que esta antecipação pode ter o efeito contrário: pode, de facto, levar a que as crianças - especialmente os rapazes - eventualmente abandonem a escola, seja mental ou fisicamente


Embora a instrução formal precoce possa parecer mostrar bons resultados nos testes à primeira vista, a longo prazo, os estudos de acompanhamento mostram que essas crianças não tiveram nenhuma vantagemPelo contrário, especialmente no caso de rapazes, a sujeição à instrução formal precoce aumenta a tendência de se distanciarem dos objetivos da escola e de abandoná-la, seja mental ou fisicamente .


Então quais os perigos de um currículo acelerado ou antecipado?

Esta preocupação em acelerar as aprendizagens resultou em currículos desajustados, o que significa que as atividades antes reservadas para alunos mais velhos agora são usadas com os mais novos. E, então qual o problema com este tipo de currículo?


Embora alguns pais fiquem facilmente impressionados com a aquisição precoce de conceitos pelos filhos, muitas vezes eles estão na total ignorância do mal que isso possa causar a longo prazo. Os efeitos negativos de um currículo acelerado, no entanto, foram pesquisados e documentados por especialistas em educação infantil e incluem níveis aumentados de stress, maior incidência de comportamento agressivo, ou atuação e um fenómeno particularmente perturbador: o diagnostico, cada vez mais precoce, de défices e outras patologias.


Um currículo acelerado pede que as crianças se comportem segundo padrões que não são razoáveis para a sua tenra idade. E, quando não conseguem corresponder: ficam frustrados, agem de forma desafiadora e recusam-se a participar - logo são rotulados de "destabilizadores", "hiperativos", "opositores" ou "socialmente imaturos".


E, portanto, muitas vezes, quando se coloca a pergunta sobre o que está errado com as crianças no pré-escolar, a pergunta apropriada seria: o que está errado com o nosso pré-escolar?


Andamos a fazer o oposto do que funciona. A Finlândia tão mencionada e defendida pelos nossos governantes, é conhecida em todo o mundo por seu excelente sistema educacional, e teoricamente os outros países procuram copiar o seu sucesso. Um estudo em 2012 que avaliou os sistemas educativos em 50 países, levando em consideração fatores como pontuações em testes padronizados, taxas de alfabetização e taxas de graduação universitária colocou a Finlândia ficou em primeiro lugar. Lugar que tem mantido. O que nos levaria a pensar que, portanto, seria visionário seguir o exemplo da Finlândia na educação infantil, mas não, nós teimosamente insistimos em fazer exatamente o oposto!


Algo que distingue as crianças na Finlândia é não receberem instrução académica formal até os 7 anos de idade!


As pré-escolas da Finlândia são voltadas para a criança, o brincar, a exploração e a aprendizagem prática, o respeito pela individualidade e muito contacto com a natureza. o que fazemos às nossas é cada vez são mais voltá-las para o adulto que guia todas as atividades, muitas vezes inclusive o brincar, longos tempos sentados, livros de fichas, atividades de calendário (os tão defendidos projetos que, na sua maioria, não partem sequer das crianças ou grupo em questão, e muita desta calendarização está definida antes mesmo do educador conhecer sequer o grupo de crianças em questão!).


Os educadores de pré-escola são valorizados na Finlândia, mas em Portugal, recebemos baixos salários e possuímos um baixo estatuto social. Mas no entanto, espera-se que os educadores do pré-escolar, no nosso país, sejam cada vez mais sugestionados pela intensa pressão em preparar academicamente as crianças para o primeiro ciclo.


A alegria e o bem-estar são a base para o ensino das crianças pequenas na Finlândia. Os seus educadores têm objetivos amplos de longo prazo: promover alunos entusiasmados ao longo da vida que podem pensar por si mesmos, trabalhar bem uns com os outros, usar a sua imaginação e resolver problemas de maneiras criativas.


Se queremos o melhor para os nossos filhos e queremos que eles cresçam sãos, devemos dar-lhes mais tempo e oportunidade para brincar, não menos.


No entanto, os legisladores e filantropos com poder decisivo continuam a empurrar na direção oposta - em direção a mais escolaridade, mais orientação dos adultos para as crianças e menos oportunidades para brincar livremente. Acreditem que este será ainda mais o futuro do pré-escolar se este integrar o ensino obrigatório. Tornar-se-á cada vez mais "Ensino" e menos Infância, ou seja um espaço para a criança apenas o ser.


Basta observar o que temos à vista, o que já acontece hoje em dia: a maioria dos nossos Jardins de Infância retirou a sesta, obriga ao desfralde e coloca as crianças nas componentes de apoio à família a ver televisão, o que por si só demonstra a falta de preocupação em providenciar atendimento de qualidade à criança, tudo isto alegadamente por falta de recursos!


O que vai mudar então? Se neste momento a rede publica nem sequer consegue incluir as crianças de 3 anos? Se temos cada vez menos pessoal docente e operacional, e cada vez mais docentes em idade de reforma?


Podemos acreditar que esta oferta melhorará pela sua obrigatoriedade e que vamos finalmente ter escolas respeitadoras das verdadeiras necessidades da criança? Poderíamos, e gostaríamos muito que essa fosse a realidade, mas infelizmente temos sérias dúvidas porque a direção tem tomado sempre o caminho inverso.


Pensamentos finais..


Hoje, sentimos que tentam silenciar aqueles que passaram a vida a trabalhar e a estudar as crianças pequenas. Pusemos o bom senso de lado e o substituímos pelo medo - medo de que os nossos filhos não sejam espertos o suficiente, medo de não terem sucesso na escola, medo de não conseguirem empregos bem remunerados.

Deixámos essas preocupações dominarem-nos, impedindo-nos de fazer o que é melhor para as nossas crianças. Quando sabemos que elas não poderiam estar mais longe da verdade.


Mas como nos diz Peter Gray no seu artigo: O declínio das brincadeiras e a ascensão dos transtornos mentais infantis, os nossos filhos e a sociedade estão a pagar um preço demasiado alto pelos currículos desajustados. E ele relaciona também as taxas crescentes de depressão, ansiedade, narcisismo e suicídio entre as nossas crianças e adolescentes a um declínio no Brincar livre e da exploração.


E ainda não falámos disto:


A Lei n.º 85/2009, de 27 de agosto estabeleceu o regime da escolaridade obrigatória para as crianças e jovens que se encontram em idade escolar e consagrou ainda a universalidade da

educação pré-escolar para as crianças a partir dos 5 anos de idade.


No entanto a Lei n.º 65/2015, de 3 de julho, veio reduzir a universalidade da educação pré-escolar para as crianças a partir dos 4 anos de idade.


Sempre se falou em universalidade e não obrigatoriedade porque, até como nos diz na Lei nª46/86, no artigo nº5, ponto 8:


- A frequência da educação pré-escolar é facultativa, no reconhecimento de que à família cabe um papel essencial no processo da educação pré-escolar.


E este é a realidade que muito nos preocupa, vamos ser desconsiderados como aqueles que temos o papel essencial no processo de educação dos nossos filhos, ou seja, o estado considera que as nossas crianças estarão melhor na escola do que se poderem estar com os pais ou familiares? Tanto há para dizer sobre isto, mas este artigo sabemos que já vai longo.


Se como nós, acreditas que é importante fazer-nos Ouvir, partilha pelos teus amigos e conhecidos esta informação. Obrigada!


* NOTA: O uso de pré-escola neste contexto, é para denominar o que chamamos jardim de infância, tudo o que é cuidados e educação fora do contexto do lar.


Consulta:


Sobre o abandono escolar dos rapazes:


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